A árvore da vida, da minha vida. Local: Vera Cruz, SP. |
Pois bem, Nero já era um cachorro avançado na idade, mas
mantinha o porte de tempos anteriores, fazia até estrepolias inimagináveis para
um cão velho, mas sempre com calma, devagar, sem pressa. Nada abalava o Nero.
Nem a morte de vovô, nem rojão de festa junina, nem os meus primos mais novos
que o adotavam como montaria nas graças de fim de ano. Vovô legou ao seu fiel
companheiro uma pelagem vistosa, um quintal grande onde Nero era imperador
entre galinhas e árvores frutíferas e uma certa dose de privacidade e paz
canina só perturbada quando vovó Chiquita lhe
despejava restos de frango e de almoço, visto que naquela época, ração
era coisa da capital e de importados.
Um dia qualquer, o Nero sumiu. E sumir numa cidade de oito
mil habitantes, onde todo mundo conhece todo mundo e o cão de todo mundo e,
principalmente, o cão do “seu” Joaquim, é, no mínimo, prodígio. Mas sumiu e
ninguém mais viu. Mais tarde fui saber que este comportamento é comum em alguns
cães. Nero se retirou tranquilamente, foi se recolher para sempre em algum
lugar que eu, uma criança de dez, onze anos não sabia ainda direito onde era.
Elegante como poucos, soube até o fim como se portar... Tinha classe o
perdigueiro, acredite.
Passado tantos anos, olhando homens e cães, aprendi que
envelhecer pode ser uma arte. Com os cães sempre é a única opção, a arte. Com
os homens, cuidado, não é, mas pode vir a ser. Posto que é irrevogável que,
assim seja, bem feita.
Mas grande perdigueiro tinha vovô... E que Deus me conserve!
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